sexta-feira, 1 de julho de 2011

"O Pequeno Príncipe"


" (...) E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada
.- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda
.- Ah! Desculpa, disse o principezinho.- Após uma reflexão, acrescentou:- Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo......
Mas a raposa voltou a sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo, que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...E a raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mau-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...É preciso ritos...... "



(O Pequeno Príncipe - "Antoine de Sain't Exupéry)





3 comentários:

  1. "Querida Lily. Tive algumas boas manhãs de coragem nos últimos tempos. Coragem de coisa pouca. Miudezas. Realizar vontadezinhas. Pegar a estrada. Assim, sem medo: nós. E desatar outros nós – não aquele, não o mais importante. Mas você deve saber – porque dessas coisas você entende – como os nós, mesmo os pequenos, fecham os mais largos caminhos. É de fazer um medo danado. Medo, não da coisa em si, mas daquilo que se pode fazer quando se tem a coisa em mãos: A liberdade.

    Uma vez eu estava ali, na praia. Molhando os pés de mansinho e fingindo nadar quase na areia. Quase na areia. Papai achava que era só até ali que eu podia ir: ali na água-quase-areia. Fazia um salgado ruim na boca, era sal e areia, areia e sal. (Mais tearde) Eu era sereia. Sabia ir muito mais longe. Sabia me afogar naquela salgadeza toda. E sair viva dali. Sem marcas. Era eu um barco velejante. A vela do barco. Sereia, peixe, tubarão. Golfinho e monstro do mar. Papai era o cais. O porto seguro. Lugar onde parava de fazer frio. Papai era lugar. Criança é não-lugar, Lily. Veja o menino, o seu: o seu? Ele é lá e cá. É o meio do caminho. O descaminho. (...)

    Ele é você. É vento. Luz e escorpião. Sabe matar coisinhas desnecessárias e dar vida ao Sol. Eu já lhe disse que ele (papai) se entende muito bem com o Sol? É que o Sol é todo feito de calor, o Sol queima e faz viver. Eu já fui assim. Até o dia em que vê que papai parecia o Deus (mais ele não era)...

    Digo, então, sobre aqueles que conhecem o segredo das asas e das barbatanas: quando a fidelidade aperta no tornozelo, fica difícil desatar o nó. A minha apertou cedo. Bem cedo... Aquela dor incessante bem ali: é de querer afrouxar.
    '
    A fidelidade apertando no tornozelo. Sei que é zelo. Você também sabe. Mas um pouco de soltura não faz mal: o mar, afinal, não guarda um monstro tão terrível assim. Nem o amor, nem a 'amizade'..."

    (Carta: Zelo - Carla Jaia)

    kisses in the heart

    (Parabéns!!! Admirável relação entre a "outra" estória.)

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  2. (http://1.bp.blogspot.com/_sFLb0RWLz-U/TUvkUGDvMaI/AAAAAAAACfo/xCrwvH1watw/s1600/a%252520menina%252520e%252520o%252520passaro%252520encantado.jpg)

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  3. Na idade média, talvez, as lojinhas não vendiam amigos, mas com certeza as de hoje sim. Precisa de um amigo? Alugue um.

    (http://www1.folha.uol.com.br/folha/turismo/noticias/ult338u610772.shtml)

    Por Thiago L.

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